segunda-feira, 29 de julho de 2013

Infância Pasteurizada



Foto reprodução: Google



Por: Marcos Santos

Ser criança nos dias atuais é muito complicado e eu explico por quê. Eu lembro que na minha infância não existiam jogos eletrônicos, computadores e carrinhos motorizados, como os de agora. Eu não tinha uma vida de luxo e pra ganhar um carrinho ou uma bola, tinha de esperar a chegada do Natal. Mas, apesar de tudo isso eu era muito feliz.
Andar de bicicleta só se fosse na Caloi ou na Monark dos coleguinhas que tinham um dinheirinho a mais do que eu. Mas, o gostoso mesmo era reunir todos os meus amigos naquele quintal espaçoso lá de casa e, juntos, criávamos nossos próprios brinquedos. Na fabriquinha improvisada surgiam várias invenções como motocas, carrinhos de rolimã, jogos de tabuleiros e muito mais.
Quando surgiu o pebolim foi como se tivessem inventado o Play Station, Xbox ou o Kinect e, claro, que o sonho de toda criança era ter um. Como era muito caro, só quem era rico conseguia ter um em casa. Mais uma vez os pequenos operários da fabriquinha, corriam para o quintal e lá fabricávamos de forma bastante artesanal o tão desejado joguinho, o quê para nós era mais um sonho realizado.
A matéria prima era um pedaço de madeira com vários pregos fincados e enfileirados que serviam como obstáculos por onde a bolinha de gude ia e voltava impulsionada pelos elásticos que eram presos nas cabeças dos pregos.  A criatividade estava presente em todo o momento e ninguém passava vontade.
Assim como nos dias de hoje, a gente também se esquecia da hora do almoço e do banho por causa do tempo que perdíamos inventando e fabricando nossos brinquedos. Só que ninguém passava fome porque a equipe era bem organizada e no quintal de um dos meninos tinha vários pés de frutas como laranja, mexerica, manga, amora, ameixa, etc.
No meu tempo quase não se falava em crianças obesas porque o esporte estava bem presente no dia a dia. Lembro que nos fundos da minha casa tinha um campinho de terra batida e lá realizávamos vários campeonatos de futebol, vôlei a até basquete.  Brincar na rua não oferecia nenhum perigo. Aliás, era na rua que surgiam as mais mirabolantes ideias. As meninas brincavam de amarelinha, boneca, escolinha, casinha e tudo numa simplicidade e ternura que só de pensar a emoção toma conta daqueles que viveram essa época.
Os tempos mudaram e com isso muita coisa também mudou. Hoje existe um novo perfil de criança que já encontra, quando não pede, tudo pronto.  Os carrinhos agora são velozes e turbinados e comandados pelos pequenos por meio de controles ou sensores magnéticos.

A casinha também está bem moderna e é possível decorá-la com o que há de melhor nas lojas de móveis e eletrodomésticos, porém, no mundo virtual. As roupinhas de bonecas feitas a mão pelas mães e avós, foram substituídas pelas tendências da moda dos grandes desfiles brasileiros e internacionais, e tudo isso, num simples ‘clic’ no mouse do 
computador é possível vestir e despir a boneca de acordo com o que há de mais fashion entre os looks apresentados na telinha de LCD do microcomputador.
O saudável jogo de futebol no fundo do quintal deu lugar aos games dos campeonatos brasileiros e europeus com narração dos grandes comentaristas e locutores esportivos da TV. Entendo que tudo isso é necessário para a evolução da humanidade, mas também entendo que tudo isso pode acabar criando uma geração de crianças que nunca saberão dar valor nas coisas simples da vida. Se existem culpados eu não sei e também não vem ao caso. Só sei que já passou da hora de ensinarmos nossas crianças a serem felizes não pelo o que elas possam ter e sim pelo que o elas possam ser.  

                                Foto reprodução: Google

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