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Por Marcos Santos
A cidade de São Paulo se prepara para a chegada de mais uma
data festiva: 25 de janeiro de 2015, aniversário da quarta maior metrópole do
mundo que completa 461 anos. Com cerca de 20 milhões de habitantes, a cidade perde
apenas para o Japão, México e Seul, ou seja, só a população daqui daria para
encher esses países e ainda a capital da Coréia do Sul. As atrações culturais já
começam no dia 24 e contará com mais de 60 atrações que você pode conferir
acessando o site da Secretaria Municipal de Cultura.
Pois bem. Quais motivos
nós temos para comemorar? Vou direto ao assunto que está assombrando mais de 12
milhões de paulistanos e já é pauta todos os dias nos grandes noticiários do
Brasil e do mundo há um ano: a inevitável falta d’água que já reflete,
inclusive, em outra área, a energia elétrica. Já são frequentes os terríveis
apagões resultantes também, da drástica redução dos níveis nas bacias
hidrelétricas das principais usinas responsáveis por gerar energia para a
região sudeste.
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Em março de 2014 o site da BBC Brasil publicou uma densa
matéria sobre a crise hídrica e apontou as principais causas para essa
tragédia. Maria Assunção Silva Dias, pesquisadora de Ciências Atmosféricas da USP
disse ao site que os reservatórios de São Paulo não suportariam um período tão
longo de seca e ressaltou que mudanças climáticas sempre ocorreram desde 1930 o
que é muito normal. Ela citou, inclusive, o excesso de chuva que acorreu entre
2009 e 2010 causando o maior transtorno à população. Àquela época foi
registrado um volume 30% a mais do que o normal
para o período, porém, hoje a situação é contrária e os irresponsáveis
culpam a Deus pela escassez de chuva.
Este é apenas um do problemas e, não
menos grave do que dezenas de outros que enfrentamos todos os dias. Comemorar
oquê? Trânsito caótico? Indústria de multas que arrecadam milhões por ano com o
pretexto de que é necessário para educar os
motoristas, mas não fazem nada em melhorias em infraestrutura urbana com esse rio de dinheiro? Crianças abandonadas
usando crack nas esquinas matando o futuro do nosso país? Comemorar o
sofrimento de milhões de trabalhadores espremidos nos ônibus, trens e metrôs
todos os dias quando vão e voltam do trabalho? Comemorar o quê? As enchentes que
assolam e destroem tudo o que veem pela frente por falta de competência e
planejamento dos governos? Os chefes de famílias que morrem diariamente vítimas
dessa violência incontrolável nas periferias e bairros centrais? As jovens que são estupradas dentro da USP por
sujeitos de pele branca e olhos claros? As ciclovias construídas sem nenhum
planejamento? É tanta bandalheira que nem vou me aprofundar e deixo á você leitor,
refletir sobre: a educação, a saúde, a segurança
pública, saneamento básico, enfim. Este é um pequeno raio X da situação endêmica
que a capital mais rica do Brasil está enfrentando há dezenas de anos. Fotos reprodução Google imagens. |
Porque ao invés de gastar milhões promovendo essa celebração em homenagem a cidade, não investe esse dinheiro nos principais problemas da nossa caótica infraestrutura urbana e, com isso minimizar esse caos e evitar quem sabe, o eminente colapso nas estruturas sociais dessa metrópole que poderia servir de modelo para outros estados brasileiros e até para o mundo. A capital é feita de gente que trabalha, paga seus impostos, fazem manifestações, sofrem diariamente vítimas do caos urbano e não de monumentos, praças, arranha-céus, grandes avenidas e parques.
Portanto, melhorar a vida dessas pessoas, paulistanos ou não que
fazem da aniversariante a quinta maior potência do mundo, teria que no mínimo
ofecer um padrão de vida digno e não pão e circo. Seria razoável pra não dizer
outra coisa, que os governos: municipal e estadual tratassem essa grande massa
de trabalhadores como verdadeiros seres humanos e não como gado conforme a letra
do cantor Zé Ramalho-Admirável Gado Novo. Música, folia, comemorações, enfim, são
bem-vindas quando existe motivos para isso. De que adianta oferecer ao povo um
final de semana festivo, “alegre” e na segunda-feira e o resto do ano continuarem
os mesmos sofrimentos. Como filho da capital há 48 anos eu penso que tudo isso
seria aceitável se realmente tívemos verdeiros motivos para comemorar. Então,
deixo aqui registrado mais uma vez a minha pergunta:
Comemorar o quê?
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